Nascidas na mesma cidade, mães de Pedro, ambos com
3 anos de idade, fruto de um relacionamento curto, mas não menos rico em
experiências de vida. A primeira moradora de Botafogo, Silvia, e a segunda de
Manguinhos, Mônica, e em ambos o trabalho as tem fatigado o suficiente para
fazer das noites diárias um momento de descanso. Mas ainda há a jornada após o
trabalho ligada à aquisição de alimentos para suprir as próprias necessidades e
de seus filhos, a essa altura, sedentos em criatividade, histórias e percepções
vividas no dia. Silvia chega mais cedo em casa, às 18 horas, tempo em que
consegue liberar Mônica, iniciando sua longa jornada rumo a Manguinhos, em um
metrô e um trem abarrotados, situação já quase naturalizada por Mônica. Antes
de chegar em casa, na padaria adquire alguns pães para o lanche de Pedro,
durante a tarde na casa de Genilda, a vizinha da frente. São 20 horas da noite,
momento em que tanto Mônica como seu filho estão cansados, restando alguns
esboços de fala deste, expressando sua vontade e necessidade de troca. Neste
dia não foi possível, mas Mônica na semana passada havia presenteado Pedro com
um boneco sonoro. Silvia, pelo contrário, conseguira o brinquedo que Pedro
pedira no dia anterior, um carro eletrônico de controle remoto. Foram alguns
minutos até o fastio, Pedro gostava mesmo de ter suas aspirações e fantasias
compartilhadas com Mônica, a esta altura fazendo com que seu filho pudesse
dormir para mais um dia de labuta na Zona Sul. Pedro de Silvia, com saudade de
Mônica, e Pedro de Mônica com saudades diluídas, pois a presença de Genilda era
instável e pouco interativa. Em ambos a presença da coisa, do objeto, da
mercadoria é o interposto numa estratégia conhecida por mecanismos de
compensação. Às 22 horas a audiência natural é a do Big Brother Brasil, e
Mônica e Silvia realizam anestesiadamente seus cansaços concentrando-se nas
imagens fascinantes do Reality Show, talvez imaginando-se participando do jogo.
No dia, Sandy e Junior convocam os participantes a pular, pular, pular, ao
inverso da monotonia e da contemplação sugerida por Dorival nos seus anos de
composição. Suas atenções, no entanto, intercalam momentos de dispersão.
Momentos em que se mentaliza um desejo para que o próximo dia seja menos
opressivo e que seja possível o provimento material adequado aos seus filhos, e
a si próprias, visto que outras necessidades estão por vir.
Publicado em 7/01/2013
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