segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Caso Clínico


Nascidas na mesma cidade, mães de Pedro, ambos com 3 anos de idade, fruto de um relacionamento curto, mas não menos rico em experiências de vida. A primeira moradora de Botafogo, Silvia, e a segunda de Manguinhos, Mônica, e em ambos o trabalho as tem fatigado o suficiente para fazer das noites diárias um momento de descanso. Mas ainda há a jornada após o trabalho ligada à aquisição de alimentos para suprir as próprias necessidades e de seus filhos, a essa altura, sedentos em criatividade, histórias e percepções vividas no dia. Silvia chega mais cedo em casa, às 18 horas, tempo em que consegue liberar Mônica, iniciando sua longa jornada rumo a Manguinhos, em um metrô e um trem abarrotados, situação já quase naturalizada por Mônica. Antes de chegar em casa, na padaria adquire alguns pães para o lanche de Pedro, durante a tarde na casa de Genilda, a vizinha da frente. São 20 horas da noite, momento em que tanto Mônica como seu filho estão cansados, restando alguns esboços de fala deste, expressando sua vontade e necessidade de troca. Neste dia não foi possível, mas Mônica na semana passada havia presenteado Pedro com um boneco sonoro. Silvia, pelo contrário, conseguira o brinquedo que Pedro pedira no dia anterior, um carro eletrônico de controle remoto. Foram alguns minutos até o fastio, Pedro gostava mesmo de ter suas aspirações e fantasias compartilhadas com Mônica, a esta altura fazendo com que seu filho pudesse dormir para mais um dia de labuta na Zona Sul. Pedro de Silvia, com saudade de Mônica, e Pedro de Mônica com saudades diluídas, pois a presença de Genilda era instável e pouco interativa. Em ambos a presença da coisa, do objeto, da mercadoria é o interposto numa estratégia conhecida por mecanismos de compensação. Às 22 horas a audiência natural é a do Big Brother Brasil, e Mônica e Silvia realizam anestesiadamente seus cansaços concentrando-se nas imagens fascinantes do Reality Show, talvez imaginando-se participando do jogo. No dia, Sandy e Junior convocam os participantes a pular, pular, pular, ao inverso da monotonia e da contemplação sugerida por Dorival nos seus anos de composição. Suas atenções, no entanto, intercalam momentos de dispersão. Momentos em que se mentaliza um desejo para que o próximo dia seja menos opressivo e que seja possível o provimento material adequado aos seus filhos, e a si próprias, visto que outras necessidades estão por vir.  

Publicado em 7/01/2013
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