O ódio
Recebi um email que trás a seguinte pergunta como questão: “O que fiz?”
Abaixo um trecho do email:
“Na novela A Favorita, o personagem Damião disse para a mãe, em alusão à namorada: “Mas mãe, eu já disse pra senhora que eu a odeio”“. Então a mãe responde: “O ódio é o avesso do amor, meu filho, só quem não amou não sente ódio, não foge, encara”. Na mesma novela, outro personagem, Silveirinha, diz: “O ódio é um grande amor recalcado.”Quando não conseguimos “matar”, ou melhor, domesticar um sentimento que não queremos sentir, um desejo que não queremos desejar, temos a ilusão de que, afastando-nos fisicamente daquele ou daquela que consideramos “ex-amado”, vamos resolver o problema. Se assim não o fosse como seria triste perder nossos ídolos! Eles morrem e deixam o nosso espaço físico, mas permanecem dentro de nós. “Então o que fica dentro é o importante.”
Nessa história a pessoa teve um caso amoroso e ao final se sentiu abandonada. A outra pessoa depois de um tempo de muitas explicações se negava a falar com ela. O mundo para ela parece ter paralisado na negação do outro. Sugeri a ela que comece a trocar a pergunta “O que fiz?” por “Por que o tempo parou pra mim?”
Num primeiro momento é muito difícil, realmente, para qualquer um de nós. Mesmo para aqueles que superam, passam pela dor da perda sentindo-a em toda extensão. Dói e passa. Os minutos, as horas, os dias, as semanas, os meses, os anos...
Saber isso, ter esse “isso” internalizado, vivendo dentro da gente é um senso, um senso de tempo. Sem ele não aprenderíamos as coisas mais básicas da vida principalmente no diz respeito a cuidados pessoais. Eles, os cuidados nessas pessoas que não admitem a finitude da vida, ficam capengas, ou melhor, ficam mecânicos. Não existe o prazer do cuidado. Não existe possibilidade de rir de si mesmo por não terem construído um distanciamento do si mesmo. O distanciamento do nosso “si mesmo” nos possibilita saber ver de longe que somos parte e não o todo. Os nossos pedaços são feitos de substâncias que retornam que voltam e que acabam para sempre, sejam elas trágicas ou alegres, pesadas ou leves.
O fim nos acolhe em seus braços, nos consola e ainda deixa uma marca doce e muitas vezes agradável, a saudade. A saudade ajuda a formar novos sensos perceptivos. Ela é uma imagem afetiva que ajuda a potencializar e aumentar nossas redes neurais.
Quando verdadeiramente sabemos o final vivemos o presente inteiramente. Inteiramente quer dizer superar ou vencer a dor, entregarmos ao prazer, assistir sentindo toda a beleza possível e sobriamente sonhar, construir sonhos e amar tudo isso, estando incluindo no amor toda a raiva e ódio possíveis.
Numa linguagem mais feia, aceitamos a castração, ou seja, que não podemos tudo e existe o fim de tudo, assim sendo nossas redes neurais ficam mais vivas buscando outras coisas que existem, nessa busca construímos mais neurônios.
Pois é, essa história toda começa com um adulto sempre dizendo suavemente para a criança nos momentos de dor: “calma, a dor passa”.
Abaixo um trecho do email:
“Na novela A Favorita, o personagem Damião disse para a mãe, em alusão à namorada: “Mas mãe, eu já disse pra senhora que eu a odeio”“. Então a mãe responde: “O ódio é o avesso do amor, meu filho, só quem não amou não sente ódio, não foge, encara”. Na mesma novela, outro personagem, Silveirinha, diz: “O ódio é um grande amor recalcado.”Quando não conseguimos “matar”, ou melhor, domesticar um sentimento que não queremos sentir, um desejo que não queremos desejar, temos a ilusão de que, afastando-nos fisicamente daquele ou daquela que consideramos “ex-amado”, vamos resolver o problema. Se assim não o fosse como seria triste perder nossos ídolos! Eles morrem e deixam o nosso espaço físico, mas permanecem dentro de nós. “Então o que fica dentro é o importante.”
Nessa história a pessoa teve um caso amoroso e ao final se sentiu abandonada. A outra pessoa depois de um tempo de muitas explicações se negava a falar com ela. O mundo para ela parece ter paralisado na negação do outro. Sugeri a ela que comece a trocar a pergunta “O que fiz?” por “Por que o tempo parou pra mim?”
Num primeiro momento é muito difícil, realmente, para qualquer um de nós. Mesmo para aqueles que superam, passam pela dor da perda sentindo-a em toda extensão. Dói e passa. Os minutos, as horas, os dias, as semanas, os meses, os anos...
Saber isso, ter esse “isso” internalizado, vivendo dentro da gente é um senso, um senso de tempo. Sem ele não aprenderíamos as coisas mais básicas da vida principalmente no diz respeito a cuidados pessoais. Eles, os cuidados nessas pessoas que não admitem a finitude da vida, ficam capengas, ou melhor, ficam mecânicos. Não existe o prazer do cuidado. Não existe possibilidade de rir de si mesmo por não terem construído um distanciamento do si mesmo. O distanciamento do nosso “si mesmo” nos possibilita saber ver de longe que somos parte e não o todo. Os nossos pedaços são feitos de substâncias que retornam que voltam e que acabam para sempre, sejam elas trágicas ou alegres, pesadas ou leves.
O fim nos acolhe em seus braços, nos consola e ainda deixa uma marca doce e muitas vezes agradável, a saudade. A saudade ajuda a formar novos sensos perceptivos. Ela é uma imagem afetiva que ajuda a potencializar e aumentar nossas redes neurais.
Quando verdadeiramente sabemos o final vivemos o presente inteiramente. Inteiramente quer dizer superar ou vencer a dor, entregarmos ao prazer, assistir sentindo toda a beleza possível e sobriamente sonhar, construir sonhos e amar tudo isso, estando incluindo no amor toda a raiva e ódio possíveis.
Numa linguagem mais feia, aceitamos a castração, ou seja, que não podemos tudo e existe o fim de tudo, assim sendo nossas redes neurais ficam mais vivas buscando outras coisas que existem, nessa busca construímos mais neurônios.
Pois é, essa história toda começa com um adulto sempre dizendo suavemente para a criança nos momentos de dor: “calma, a dor passa”.
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